Dilma, abre os olhos
Convém entender que a maioria dos manifestantes de
junho lê e ouve a mídia nativa, grande e infatigável acusadora do
governo. Por Mino Carta
A presidenta Dilma
cai na preferência popular e, segundo a última pesquisa Datafolha, hoje
não se reelegeria no primeiro turno. Consequência da onda de protestos
que rolou nas ruas do País? Certo é que a pesquisa em questão foi
realizada enquanto os movimentos galopavam.
Na segunda-feira 1º de julho, no decorrer
de uma reunião do governo, a presidenta anunciou a decisão de manter
contato mais estreito com a mídia por meio de entrevistas coletivas.
Reação compreensível, medida acertada. Tal é a forma correta de fazer
conhecer realizações e propósitos governistas e de aprofundar a
compreensão da personalidade presidencial. Dilma se expõe e se habilita a
ganhar com isso.
Nada pior, pelo
contrário, do que entrevistas de ministros nas páginas deste ou daquele
jornalão ou revistão, ou pelos vídeos de nossa medíocre televisão.
Exemplar, deste ponto de vista, o súbito comparecimento do ministro das
Comunicações, Paulo Bernardo, nas páginas amarelas de Veja, para
endossar as próprias teses da revista, defensora de uma pretensa
liberdade de imprensa de fato jamais ameaçada. Faço questão de sublinhar
mais uma vez: “Temos de acabar – disse o ministro – com a obsessão do
PT de censurar a mídia”.
Volto ao assunto porque nem mesmo o PT
reagiu à flechada ministerial. Enquanto isso, em entrevista ao blog de
Luiz Carlos Azenha, valente e raro praticante do jornalismo honesto,
Helena Chagas, ministra-chefe da Secom, faz uma confusa alusão a CartaCapital,
sem ficar claro se alguém lamentaria a publicidade do governo dada, ou
não dada, a esta publicação. De todo modo, a senhora Chagas insiste em
acentuar que são os critérios técnicos a orientar a distribuição dessa
publicidade. Fundamental é a audiência, afirma, para que o anúncio governista atinja o maior número possível de cidadãos. Já escrevi em outras ocasiões, e repito: se The Economist fosse brasileira, ficaria com um quinto da publicidade de Veja. Às vezes, ouso insinuar, a qualidade jornalística pesa mais que a quantidade de informações distorcidas. Ou de mentiras.
Pergunto aos meus desalentados botões: adianta falar das
realizações do governo nos anúncios que sustentam quem diuturnamente
ofende e denigre o anunciante? Embora inimigos do óbvio, bem como
desalentados, não deixam de responder que teríamos, no mesmo espaço e ao
mesmo tempo, tese e antítese, a afirmação do governo e seu pronto e
feroz desmentido, a peremptória e agressiva negação de quanto afirma o
anúncio governista. Seria interessante, em todo caso, avaliar até que
ponto a mídia nativa influenciou as manifestações recentes.
Observadores e altamente confiáveis me dizem que, passado o momento da
revolta da periferia precipitada pelo aumento das passagens de ônibus,
as passeatas contaram com a presença majoritária de representantes da
chamada classe média. Sim, estes leem a imprensa e ligam na Globo.
Já se justificou
afirmar que, a despeito do empenho concentrado e maciço da mídia nativa
no sentido de dificultar a vida da presidenta e do seu partido, Dilma
ganharia com folga no primeiro turno do pleito de 2014. Patético soava o
esforço midiático, embora o alvo da agressão, com generosidade
samaritana, sempre se prontificasse a abastecer regiamente os cofres
desta que é o verdadeiro partido de oposição. A perspectiva mudou. É a
enxurrada do leite derramado.
Há quem diga que as passeatas de junho
oxigenam a política brasileira. A verificar como e por quê. Por ora,
quem está em dificuldade são os franco favoritos de escassos meses
atrás, ou dias até
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